sábado, 26 de setembro de 2009

XXVI Domingo do Tempo Comum | 27.08.08


A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum apresenta várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e integrar, de forma plena e total, a comunidade do Reino. Uma das sugestões mais importantes (que a primeira leitura apresenta e que o Evangelho recupera) é a de que os crentes não pretendam ter o exclusivo do bem e da verdade, mas sejam capazes de reconhecer e aceitar a presença e a acção do Espírito de Deus através de tantas pessoas boas que não pertencem à instituição Igreja, mas que são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.

A primeira leitura, recorrendo a um episódio da marcha do Povo de Deus pelo deserto, ensina que o Espírito de Deus sopra onde quer e sobre quem quer, sem estar limitado por regras, por interesses pessoais ou por privilégios de grupo. O verdadeiro crente é aquele que, como Moisés, reconhece a presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta.

No Evangelho temos uma instrução, através da qual Jesus procura ajudar os discípulos a situarem-se na órbita do Reino. Nesse sentido, convida-os a constituírem uma comunidade que, sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade, procura acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos; convida-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os pobres; convida-os ainda a arrancarem da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino.

A segunda leitura convida os crentes a não colocarem a sua confiança e a sua esperança nos bens materiais, pois eles são valores perecíveis e que não asseguram a vida plena para o homem. Mais: as injustiças cometidas por quem faz da acumulação dos bens materiais a finalidade da sua existência afastá-lo-ão da comunidade dos eleitos de Deus.


Reflectindo o Evangelho

"Hoje já não se pode confiar em ninguém." Esta é uma frase que correntemente escutamos e usamos.

De facto, olhando para o nosso redor, parece que cada um de nós procura construir o seu mundo, sem olhar ao que se encontra à sua volta, pois só assim parece viver em segurança.

Também na nossa vida de cristãos pode acontecer algo semelhante: muitas vezes temos a impressão que Deus está longe, que Deus nos abandonou e que, por isso, devemos confiar apenas nas nossas forças, nos nossos projectos e interesses.

Viver deste jeito não é viver cristãmente, pois o Espírito de Deus não se identifica com o isolamento, com o egoísmo, com o fechamento em si.

O Espírito torna-nos seres livres e profetas, absolutamente contrários a qualquer atitude de fanatismo: o destino do Espírito é todo e qualquer Homem que O aceite de boa vontade, tornando-o verdadeiro profeta: "logo que o Espírito poisou sobre eles, começaram a profetizar" (ver 1ª leitura).

Profetizar é uma atitude identificadora de qualquer baptizado, onde está inerente o anunciar e o denunciar. Na 2ª leitura, S. Tiago denuncia a origem da riqueza que, na maior parte das vezes, está associada à injustiça, à corrupção, à exploração, ao abuso. S. Tiago refere que os bens deste mundo estão destinados a todos, importa é equacioná-los, pois só deste modo poderemos viver e por em prática os princípios evangélicos, para que não corramos o risco de Deus, no dia do juízo, nos dizer: "levaste na terra uma vida regalada e libertina, cevaste os vossos corações para o dia da matança" (ver 2ª leitura).

No Evangelho, somos interpelados à abertura aos outros, evitando sempre atitudes de presunção e ambição, acautelando-nos de tudo aquilo que possa ser escândalo, ou seja, de tudo aquilo que possa impedir e não identificar o verdadeiro discípulo: "se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a" (ver Evangelho).


Vivendo o Evangelho


Somos Igreja. Somos baptizados. Não corramos o risco de considerar a Igreja como uma elite, como um grupo de gente perfeita e casta. Somos fracos, débeis, e a nossa atitude em Igreja deve ser sempre de acolhimento, de ajuda, sobretudo àqueles que querem ou têm a oportunidade de iniciar o seu percurso como discípulos de Jesus, isto porque, muitas vezes, temos a tentação de querer eliminar logo todos aqueles que não pensam como nós, ou muitas vezes, pelas qualidades que o outro apresenta, temos receio de perder o nosso "lugar", o nosso "status", como se a Igreja fosse um local de prestígio, de poder, de honras, de subir nos escalões.

Ao mesmo tempo, a liturgia deste Domingo impele-nos a ter coragem de "amputar" todas as nossas palavras e acções que espelhem altivez, arrogância, superioridade, vingança, inveja, vontade própria…



Farol de Luz; A Caminho



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