sábado, 17 de outubro de 2009

XXIX Domingo do Tempo Comum | 18.10.09





A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum lembra-nos, mais uma vez, que a lógica de Deus é diferente da lógica do mundo. Convida-nos a prescindir dos nossos projectos pessoais de poder e de grandeza e a fazer da nossa vida um serviço aos irmãos. É no amor e na entrega de quem serve humildemente os irmãos que Deus oferece aos homens a vida eterna e verdadeira.

A primeira leitura apresenta-nos a figura de um “Servo de Deus”, insignificante e desprezado pelos homens, mas através do qual se revela a vida e a salvação de Deus. Lembra-nos que uma vida vivida na simplicidade, na humildade, no sacrifício, na entrega e no dom de si mesmo não é, aos olhos de Deus, uma vida maldita, perdida, fracassada; mas é uma vida fecunda e plenamente realizada, que trará libertação e esperança ao mundo e aos homens.

No Evangelho, Jesus convida os discípulos a não se deixarem manipular por sonhos pessoais de ambição, de grandeza, de poder e de domínio, mas a fazerem da sua vida um dom de amor e de serviço. Chamados a seguir o Filho do Homem “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida”, os discípulos devem dar testemunho de uma nova ordem e propor, com o seu exemplo, um mundo livre do poder que escraviza.

Na segunda leitura, o autor da Carta aos Hebreus fala-nos de um Deus que ama o homem com um amor sem limites e que, por isso, está disposto a assumir a fragilidade dos homens, a descer ao seu nível, a partilhar a sua condição. Ele não Se esconde atrás do seu poder e da sua omnipotência, mas aceita descer ao encontro homens para lhes oferecer o seu amor.



Reflectindo o Evangelho


Mandar é ser superior aos outros; mandar é subjugar os outros; mandar dá prestígio; mandar dá reconhecimento social. Esta é a mentalidade predominante.

Ora, Jesus, mais uma vez, vem reclamar de novo o verdadeiro sentido de mandar. Para Jesus, mandar é servir. Prova disso é o Evangelho deste Domingo: "o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos" (ver Evangelho).

Encontrar e entender a lógica de Deus é meditarmos na primeira leitura deste Domingo: um servo débil, desprezado, derrotado, que aparentemente não atrai ninguém (não tem beleza, força e riqueza) é sinal e gerador de vida: "pela sua sabedoria, o Justo, meu Servo, justificará a muitos e tomará sobre si as suas iniquidades" (ver 1ª leitura). Ver em Deus o gerador e o sinal da Verdadeira Vida dá-nos força e impulso para "irmos, portanto, cheios de confiança ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia" (ver 2ª leitura).

Como e onde encontrar Deus? Dizemos, muitas vezes, que Deus está longe, é indiferente. Será que Ele está longe, ou nós é que o queremos longe? São as nossas opções, os nossos comportamentos que decidem a presença ou a ausência de Deus. Certamente que quando enveredamos pela lógica e na linha do que é brilhante, do que é sedutor, do que dá prestígio, aí Deus ausenta-se, porque Deus sendo bom, simples, servo fiel, humilde, generoso, não se pode identificar naquilo a que a isto se opõe, pois "Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado" (ver 2ª leitura).



Vivendo o Evangelho


Olhemos para a nossa vida. Olhemos para os ambientes onde nos encontramos diariamente. Olhemos para a sociedade onde estamos inseridos. Olhemos para a comunidade da qual fazemos parte. Olhemos para a mentalidade reinante. Quem são para mim os primeiros? O que significa para mim ser o primeiro? Que atitudes tomo eu na minha vida? Vejo o poder como serviço, como ajuda e atenção aos irmãos, ou, pelo contrário, assumo e procuro o poder como reconhecimento social, como prestígio, como ser mais do que os outros?

Assumo-me cristão: mesmo assim, a lógica de Deus é ou não aceite pela minha lógica? Ou será que Deus é para mim um "pesar na consciência" e, por isso, inconscientemente procuro recalcar a minha lógica à lógica de Deus?

Em Dia Mundial das Missões tomemos consciência de que somos discípulos de Deus. Mas sejamos discípulos não instalados nos nossos esquemas, mas dinâmicos naquilo que dizemos, naquilo que fazemos e no testemunho que damos. Assim, estaremos a ser verdadeiros missionários que escutam, que analisam, que meditam e que anunciam a Boa Notícia que Deus quer, através de cada um de nós, não impor mas propor, para que cada homem e mulher se sintam orientados e amados por Deus.

Quando assim vivemos o poder não é domínio, não é superioridade, mas é verdadeiro serviço, verdadeira transmissão de valores.



Farol de Luz; A Caminho


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