sexta-feira, 6 de novembro de 2009

XXXII Domingo do Tempo Comum - 8.11.09


A liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum fala-nos do verdadeiro culto, do culto que devemos prestar a Deus. A Deus não interessam grandes manifestações religiosas ou ritos externos mais ou menos sumptuosos, mas uma atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus projectos, de acolhimento generoso dos seus desafios, de generosidade para doarmos a nossa vida em benefício dos nossos irmãos.

A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de uma mulher pobre de Sarepta, que, apesar da sua pobreza e necessidade, está disponível para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus. A história dessa viúva que reparte com o profeta os poucos alimentos que tem, garante-nos que a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.

O Evangelho diz, através do exemplo de outra mulher pobre, de outra viúva, qual é o verdadeiro culto que Deus quer dos seus filhos: que eles sejam capazes de Lhe oferecer tudo, numa completa doação, numa pobreza humilde e generosa (que é sempre fecunda), num despojamento de si que brota de um amor sem limites e sem condições. Só os pobres, isto é, aqueles que não têm o coração cheio de si próprios, são capazes de oferecer a Deus o culto verdadeiro que Ele espera.

A segunda leitura oferece-nos o exemplo de Cristo, o sumo-sacerdote que entregou a sua vida em favor dos homens. Ele mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e que espera de cada um dos seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera de nós o dom da nossa vida, ao serviço desse projecto de salvação que Ele tem para os homens e para o mundo.


Reflectindo o Evangelho


“Ao pobre falta muito; ao avarento, tudo”. Este adágio popular parece resumir a mensagem da Liturgia da Palavra deste trigésimo segundo Domingo do Tempo Comum.

Reparemos nas duas leituras: a primeira descreve a vida de uma pobre mulher de Sarepta, que não tinha muitos bens materiais mas que, pela sua abertura, foi capaz de doar a sua vida aos apelos e desafios de Deus; chegou mesmo a partilhar os poucos alimentos que tinha com o profeta: “A mulher foi e fez como Elias lhe mandara; e comeram ele, ela e seu filho” (ver 1ª Leitura). No Evangelho é descrita a situação de uma mulher pobre e viúva e, como tal, marginalizada, ignorada pela sociedade. Mas, é precisamente a ela que Jesus vai dar relevo: Jesus olha para ela com compaixão, com carinho, com ternura. Na sua pobreza e com a sua pobreza, o pouco que tinha partilhou com os outros; os ricos até deram muito, tal como relata o Evangelho, mas esta mulher deu o pouco que tinha, o que aos olhos de Deus tem mais valor.

Outra crítica severa que Jesus faz neste Evangelho refere-se ao verdadeiro culto, à verdadeira religião. A Deus não interessam grandes solenidades, grandes sumptuosidades, nem muito menos servir-se da religião e do culto para obter lugares de prestígio e de domínio sobre os outros, pois se isso acontece é um grande impedimento para aqueles que querem fazer um verdadeiro caminho com Cristo. Ao mesmo tempo, Jesus chama-nos à atenção dos juízos que fazemos às outras pessoas; muitas vezes julgamos apenas pela aparência e enganamo-nos, pois, aqueles que à primeira vista podem não valer “dez reis”, diante de Deus têm um valor incalculável, pois são capazes de ter um coração aberto, disponível, sensível à partilha, coisa que, aos olhos do mundo, é incompreensível e pouco abonatório, mas que diante de Deus tem um valor incalculável: “Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver”. Exemplo claro disso é o Senhor Jesus, tal como transparece na 2ª Leitura: “assim também Cristo, depois de se ter oferecido uma só vez para tomar sobre si os pecados da multidão” (ver 2ª Leitura).



Vivendo o Evangelho


A sociedade dos espertos é oposta à sociedade evangélica. Isto é mesmo verdade. Realmente, olhando para o nosso mundo vemos que só se “safam” aqueles que ocupam lugares de destaque na sociedade. Os ricos são cada vez mais ricos, exploram, escravizam os mais pobres e, mesmo assim, nunca se sentem satisfeitos, andam sempre a procurar ter cada vez mais. Além disso, sentindo-se auto-suficientes, são insensíveis, têm um coração fechado face àqueles que menos têm ou não têm nada. Casualmente, até são capazes de dar uma esmola a um pobre, mas isso pouco lhes custa, pois têm muito.

Os ricos (os que têm muito dinheiro, grandes contas bancárias, grandes bens), até têm capacidade de dar, mas não de se darem. Ora, olhando para a atitude que Jesus teve para com a mulher pobre e viúva descrita no Evangelho, parece que isso tem mais valor, pois, sem medo e sem reservas, foi capaz de dar o pouco que tinha. É um grande modelo para nós, hoje, vivermos uma vida sensível aos problemas dos outros, atitude que só é possível quando somos conscientes de que Deus está presente na nossa vida e que quer que vivamos, não de qualquer jeito, mas quer dar-nos uma vida nova, vida em abundância, pautada pela partilha, pela solidariedade, pela atenção aos outros, uma vida autêntica. Se assim vivermos, com o pouco contributo que possamos dar, pode ser que consigamos resolver, ainda que de forma parcial, a crise não só económica, mas humana e cristã que a todos atinge.



Agência de Ecclesia; A Caminho


Sem comentários: