segunda-feira, 6 de julho de 2009

Simpósio do Clero em Portugal - Reaviva o Dom que há em ti



Decorrerá este ano mais um Simpósio nacional do Clero. Realizar-se-á em Fátima entre os dias 1 e 4 de Setembro de 2009 e terá por tema o desafio de Paulo na segunda Carta a Timóteo: "Exorto-te a que reavives o dom da Graça de Deus que está em ti pela imposição das minhas mãos" (2 Tim 1, 6 " 11).


Decorrerá este ano mais um Simpósio nacional do Clero. Realizar-se-á em Fátima entre os dias 1 e 4 de Setembro de 2009 e terá por tema o desafio de Paulo na segunda Carta a Timóteo: “Exorto-te a que reavives o dom da Graça de Deus que está em ti pela imposição das minhas mãos” (2 Tim 1, 6 – 11).


Em cada momento é necessário reavivar o dom de Deus que está em nós. Que significará reavivar? O verbo grego significa avivar um fogo. Ora o Espírito Santo é descrito muitas vezes como fogo e a sua vinda é descrita simbolicamente em línguas de fogo. E é nesse sentido que é interessante que seja dito que o homem cristão, nomeadamente o sacerdote, tem responsabilidade no reavivar em si mesmo o dom de Deus. Neste caso concreto de Timóteo trata-se do dom que recebeu pela imposição das mãos, o rito específico da ordenação, da consagração ou nomeação. Trata-se, portanto, do dom da Graça de Deus para o ministério em Igreja. É esse dom ministerial que é preciso reavivar. E se há necessidade de o reavivar significa que ele se pode apagar ou extinguir e que corre esse perigo. Como se extinguem ou “ofuscam” os dons de Deus e, nomeadamente, o dom do seu Espírito? Podemos colocar algumas hipóteses de motivos: No caso de Timóteo podemos colocar a hipótese de o dom se ofuscar por causa da solidão. Timóteo pode ter-se sentido “terrivelmente solitário” quando se separou de Paulo. Tinham trabalhado em muito estreita colaboração, mas agora o peso da solidão, das decisões na comunidade fazem-no esquecer de recorrer à força do dom de Deus. Ainda hoje encontramos solidões terríveis e que por isso destroem ou ofuscam o Espírito de Deus em nós.


Uma outra razão possível para o enfraquecimento do dom de Deus em Timóteo é a sua jovem idade ou, por quaisquer motivos, a insegurança. Jovem idade que pode fazer com que Timóteo se sinta inadequado para a direcção da comunidade. A insegurança produzida pela idade, de facto, apresentada aqui como uma hipótese de algo que provoca o enfraquecimento do dom de Deus.


Uma terceira hipótese de causa do enfraquecimento do Dom de Deus é a falta de exercícios espirituais, a falta de oração. Lembremos que, na primeira Carta a Timóteo, Paulo exorta Timóteo a exercitar a piedade (1 Tim 4, 8). O dom de Deus pode, portanto, ofuscar-se quando deixamos de rezar.


Somos então desafiados a reavivar o dom de Deus que está em nós. E S. Paulo continua dizendo a Timóteo que Deus nãos nos deu um Espírito de timidez, mas sim de fortaleza, caridade e temperança. À primeira vista, humanamente falando, parece que temos aqui um Timóteo que não acredita já no seu ministério e na sua capacidade. É assim que S. Paulo o convida a sair do estado de temor em que parece viver (quem teme não é perfeito no amor).


A timidez de que nos fala S. Paulo não é apenas, ou principalmente, uma timidez psicológica. É antes uma timidez que se revela como o contrário da confiança em Deus, o contrário da fé em Jesus Cristo que conhece e guia todas as coisas. Significa, portanto, que a timidez, no sentido de medo, de falta de coragem evangélica, é uma tentação grave e o possível início de muito ofuscamento de dons de Deus. É algo que mata a alegria e a coragem do serviço ministerial. É desta mesma timidez que Jesus nos liberta quando nos diz “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não se perturbe o vosso coração, não tenhais medo” (Jo 14, 27) (não tenhais “deilia”).


De facto, continua S. Paulo, Deus deu-nos um Espírito de fortaleza, de amor e de temperança”. Poderíamos traduzir de outra forma: “um Espírito de força, de amor e de sabedoria”. A força que nos é dada é a força do próprio Senhor Jesus, aquela que estava n’Ele ao anunciar com tantos e tantos sinais o Reino de Deus. O amor, por seu lado, é o amor de Deus, o amor criador, a caridade participação no próprio Amor que Deus é. A temperança, finalmente, aqui usada por Paulo, diz respeito à sabedoria associada à prudência e à moderação. A temperança é a capacidade de permanecer na justa medida que é diferente do meio termo, a capacidade do equilíbrio. É a justiça. É a capacidade de não se deixar manipular pelos estados emocionais passageiros, pelos fantasmas dos sentimentos, pela dureza das desilusões (inconsistência). Talvez por tudo isto S. Paulo diga a Timóteo que o Espírito de Deus é de força, amor e temperança. Talvez a força e o amor não chegassem e Paulo lhes junte a capacidade de discernimento que a temperança faz agir. Ser sábio e ter temperança é saber discernir os tempos, os lugares, os momentos, reconhecer a revelação da força de Deus, perseverar.


Simpósio em tempo de Ano Sacerdotal, uma ocasião ímpar para o Clero e para todos os cristãos perceberem melhor e viverem mais profundamente o lugar do Padre na Igreja e no mundo. Uma ocasião de perceber a sua vocação e os sinais específicos da sua consagração.


Pe. Emanuel Matos Silva


Diocese Portalegre-Castelo Branco


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