sexta-feira, 13 de março de 2009

III Domingo da Quaresma - 15.03.09

Temos coragem de levantar o chicote?



Reflectindo o Evangelho

Gratuidade, definida como acto ou efeito de dar de forma desinteressada… Esta palavra parece cada vez mais rara nos nossos dias. Um elogio, um presente, uma saudação mais cuidada e ficamos logo de pé atrás, na expectativa do que nos vai ser pedido. Aliás, até temos expressões idiomáticas como "Não há jantares pagos" ou "Quando a esmola é grande o pobre desconfia".
O Evangelho deste Domingo fala-nos precisamente da gratuidade de Deus, de um Deus que se dá de forma desinteressada, apenas por Amor, e da forma como o povo hebreu havia corrompido a gratuidade da relação com Deus, ao transformar o culto numa troca comercial com Deus, trocando bois, ovelhas e pombas pela benevolência de Deus. Falar da incompatibilidade entre este sistema negocial e a oração era desestruturar toda a forma de viver o culto por parte dos judeus.
Encontramos assim Jesus Cristo a expulsar os vendilhões do Templo (ver Evangelho) para manifestar a necessidade de purificar o espaço destinado a viver e a agradecer a gratuidade de um Deus que os havia escolhido e acolhido enquanto povo.
Claro que esta reacção de Jesus Cristo provocou espanto e indignação, mas a sua mensagem sempre provocou escândalo junto daqueles que viviam acomodados, e essa mensagem de amor acaba por manifestar-se de forma plena na Cruz, também ela "escândalo para os judeus e loucura para os gentios" (ver segunda leitura).
Mais do que olharmos para Jesus Cristo como um reaccionário, importa procurarmos descobrir naquele que queremos imitar o zelo pelas coisas do Pai (ver Evangelho), pois nesta acção extrema de expulsar aqueles que ocupavam e desvirtuavam o espaço de oração está a preocupação por alertar para a originalidade das "dez palavras" (ver primeira leitura) que Deus disse: um decálogo que não é restritivo mas sim libertador; um decálogo de amor e de gratuidade.


Vivendo o Evangelho

Em tempo quaresmal, este Evangelho convida-nos a olhar para o espaço que destinamos para a nossa relação com Deus, se esse espaço realmente existe e se é ocupado pelo essencial, pela certeza da gratuidade do amor de Deus.
Pela nossa vida somos chamados a testemunhar que vivemos segundo um conjunto de palavras que Deus nos disse para nos servirem enquanto código de conduta, e só a nossa postura poderá dizer se essas palavras libertam ou são um peso para nós.
Não é um estilo de vida banal: no entanto, mesmo não vivendo o estilo de vida comum, vivemos o modo de vida de um Homem que foi "escândalo para os Judeus e loucura para os gentios".
Fonte: A Caminho

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